sábado, 27 de fevereiro de 2016

O seu passado é um Trampolim ou um Sofá?

"E se eu fosse o primeiro a voltar e mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria?"

Certamente se fizéssemos esse questionamento a nós mesmo não chegaríamos a uma resposta concreta. Uma vez que o que somos hoje é exclusivamente produto de cada acontecimento, cada atitude e cada momento que ficou no passado. Não tem como voltar, ou seja, jamais teremos uma resposta.Mas já que não há como voltar e estamos contaminados pelo nosso passado como o usamos, como um lugar de aprendizado ou como um um sofá, onde ficamos confortavelmente estagnados?

Para começar, gostaria de esclarecer meu ponto de vista de que dor é dor. Sim, não importa o quanto o acontecimento pareça insignificante aos olhos dos outros, se uma pessoa sofre por algo, esse fato merece atenção. Não importa se fulano superaria isso em segundos ou se beltrano nem ligaria. Cada pessoa tem sua forma de lidar com os fatos da vida, portanto não podemos quantificar a dor que cada fato pode causar nas pessoas. 

O certo é que por maior ou menor que tenha sido uma dor no passado devemos saber como usá-la no presente. Ninguém escapa de acontecimentos ruins e não temos como apagá-los de nossas memórias. Porém, quando nos agarramos ao passado os sentimentos ruins insistem em manter-se em uma intensidade ameaçadora, onde qualquer evento que nos faça relembrar do ocorrido os intensificam de tal maneira que nos paralisam.

Quanto mais nós agarramos ao passado, mas nos permitimos justificar para nós mesmos o porque somos de tal maneira. É o famoso "Hoje eu sou assim porque quando eu era adolescente...". É verdade que o passado nos molda, eu até disse isso no começo. Eu também disse que não há como voltar para refazer as coisas, porque também é verdade. Mas muito do que nos resta de ruim hoje devido ao nosso passado é porque nós nos permitimos ainda estar agarrados a eles. Porque estamos sentados no sofá do passado lamentado o que não deu certo ou o que poderia ser "se". E nesse sofá passamos a repetir os mesmos comportamentos no presente e a gerar mais e mais dor. 

Mas se não há como voltar e tomar a atitude que deveríamos ter tomado, há como levantar do sofá e usar o passado como trampolim.Usar o passado como trampolim é tirar um aprendizado daquilo que aconteceu, nos livrar da culpa, do medo, do rancor, reconhecer nossos erros para diminuí-los no futuro e tirar da experiência um maior auto conhecimento. Quando permitimos que o passado seja usado de forma saudável conseguimos nos livrar daquilo que nos prende a ele e então passamos a viver onde importa, no presente. Para isso isso é necessário paciência para superar a dor que se arrastou por todos os anos e seguir em busca pelo que podemos ser e ter de melhor nessa vida.

Mesmo que pareça uma missão complicada, é possível deixar o passado onde ele deveria estar. Se for um caminho penoso para se percorrer sozinho procure ajuda de amigos, parentes, de pessoas que você ama ou de profissionais que possam te fortalecer nessa jornada em busca de uma vida no presente. Apenas não desista da pessoa que você poderia ser hoje para se agarrar aquela que foi no passado.

E respondendo o questionamento da letra da música no início do texto: Se você voltasse ao passado e mudasse o que fez eu jamais saberei te dizer quem você seria hoje. Mas se você viver seu presente, fora do sofá do passado, você pode ser quem e o que você quiser.

Ana Cláudia Vargas da Silva - Psicóloga

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Querer mudar o outro, dá certo?

Não é nada raro que nos relacionamentos existam discussões onde uma das parte exija mudanças da outra. E mesmo que o tempo passe, as brigas...