
Quando falamos em abuso entre casais temos a tendência de relacioná-lo com agressões físicas e verbais. Isso pode ser justificado pela quase invisibilidade do abuso emocional, que não transparece por muitas vezes ser sutil.
Quanto mais recente é o relacionamento mais invisível é o abuso, pois ele está envolvidos por crenças que o justificam, como: "Tenho ciúmes por a(o) amo" ou "Faço isso porque quero seu bem".
Uma vez justificada a forma disfuncional do relacionamento, o parceiro passa a acreditar nessas crenças e cria suas próprias crenças como: "É o jeito dele(a) mostrar que se importa comigo" ou " Ele(a) é assim mesmo e eu é que tenho que me acostumar."
Justificado por ambas as partes, o abuso emocional se mantem em sua invisibilidade por um longo tempo. E ao mesmo tempo em que se instala uma falsa sensação de estar tudo bem, também se instala a baixa-estima, a insegurança e a dependência no abusado; e o desejo cada vez maior de controle no abusador.
O abusador, na busca pelo controle, pode usar diversos artifícios, como:
Tentar afastar o(a) companheiro(a) das pessoas, empregando esforços para que o abusado acredite que não deve ou que não valha a pena socializar-se, seja com amigos, colegas de trabalho ou familiares;
Jogos mentais, colocando-se em situações onde manipula o(a) companheiro(a) com o intuito de conseguir aquilo que se quer.
Anular a identidade do(a) parceiro(a), fazendo com que tudo que o companheiro faça gire ao redor daquilo que o abusador deseja, até o ponto em que este tenha o controle absoluto da vida e rotina do abusado.
Apontar as falhas e dar grande enfase a elas quando não consegue o que quer ou acredita que perdeu o controle.
Os abusadores usam diversos artifícios para conseguir manipular e manter a sensação de controle absoluto do outro. Na maioria das vezes esses artifícios não são visíveis e quanto mais o abusado concorda com isso mais invisíveis elas se tornam.
Apesar de manter-se oculta a maior parte do tempo, é possível vê-las claramente quando o abusado perde o controle da situação, onde suas estratégias tornam-se mais agressivas para que ele retome sua sensação de controle.
O controle passa a ser a meta do abusador, em todas as situações e a todo momento, onde a cada dia anula, sutilmente e constantemente, o outro. O abusado passa a sentir-se infeliz e não enxerga qualquer possibilidade além de aceitar o outro "como ele é".
Muitos abusados tentam mudar seu companheiro na expectativa de salvar o relacionamento, mas isso muitas vezes falha, pois o abusador tem o desejo insaciável de controlar o abusado e não reconhece esse desejo como patológico, mas como amor ou zelo.
É preciso que ambos procurem ajuda profissional, o abusado para recuperar sua auto-estima e partir para ação de controlar sua própria vida e o abusador para compreender o porquê desse desejo incontrolável.
Quando um casal passa por isso não há quem esteja feliz, pois o abusado sente-se anulado e limitado a satisfazer apenas o desejo do outro e o abusador nunca está feliz, pois a mínima demostração de falta de controle traz uma grande frustração e mobilização para trazer o controle de volta.
É preciso coragem para sair de um relacionamento abusivo, mas é possível!!! Procure ajuda e não se esqueça:
Ciúmes não é amor,
Controle não é zelo,
Perseguição não é preocupação.
Isso tudo não tem nada a ver com amor, isso é ABUSO!
Ana Cláudia Vargas
Psicóloga
Juiz de Fora-MG
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